Cátedra avalia desempenho e impacto de projetos de políticas públicas de saúde

O III Seminário da Cátedra InovaHC FMUSP abordou avaliação de desempenho e impacto em projetos de inovação e transformação digital

Sob o tema  “Avaliação de Desempenho e Impacto em Projetos de Inovação e Transformação Digital: da Aplicação à Políticas Públicas de Saúde”, o III Seminário da Cátedra InovaHC FMUSP foi realizado em 16 de abril. 

A iniciativa é uma parceria do InovaHC e da FMUSP. A Cátedra tem ainda o apoio do Instituto Coalizão Saúde, Instituto Todos pela Saúde, FAPESP, Instituto de Estudo para Políticas sobre Saúde (IEPS) e grupos de trabalho constituídos por UNIFESP, UFMG, Tecni e Banco Mundial. O evento foi moderado pelo Prof. Dr. Paulo Schor, gestor de pesquisas para inovação da FAPESP. 

Desde setembro de 2024, a Cátedra promove eventos presenciais e online para discutir desempenho, inovação e transformação digital. É um espaço para desenvolver soluções que se transformem em políticas públicas de saúde.

Participaram da abertura e das apresentações: 

  • Profª Linamara Battistella, Presidente do Conselho Diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMREA); 
  • Dra. Cristina Balestrin, coordenadora de Saúde Digital do Governo do Estado de São Paulo;
  • Dr. Arnaldo Hossepian Júnior, Presidente da Fundação Faculdade de Medicina;
  • Renato Vieira,  Assessor Técnico da Superintendência do HCFMUSP, focado no PDI Saúde Digital (representando o superintendente Antônio José Pereira, que estava em agenda em Brasília).
  • Prof. Dr. Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho do Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, o InovaHC;
  • Paula Gobi Scudeller, Diretora Executiva de Saúde Digital do HCFMUSP e do PDI; 
  • Prof. Jonathan Freitas, da Techni Methods e professor do departamento de ciências administrativas da UFMG;
  • Me. Lucas Falcão, Pesquisador da Cátedra,  Doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas e mestre em economia pela UFBC;
  • Dr. Vanderson Sampaio, Diretor-Presidente Interino do Instituto Todos Pela Saúde (ITpS), Doutor em Medicina Tropical pela Universidade do Estado do Amazonas e Fundação de Medicina Tropical;
  • Dr. Roberto Iunes, Consultor Sênior do Banco Mundial, trabalhou por mais de 13 anos no BID;
  • Prof. Carlos Carvalho, Diretor de Saúde Digital do HCFMUSP; 
  • Dr. Paulo Saldiva, médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador da FAPESP.

Construindo a saúde digital em São Paulo: o PDI e seus desafios

A saúde digital tem o potencial de revolucionar a gestão da saúde, ampliar e qualificar o acesso. ”O SUS de São Paulo não se assemelha ao SUS do Brasil, o que é lamentável, mas é também a expressão clara do que é possível fazer. Se acontece aqui, pode acontecer em qualquer lugar”,  avaliou a Profª Linamara Battistella.

Para que esse potencial da saúde digital se concretize, a Dra. Cristina Balestrin entende que o caminho da transformação digital não é linear, mas uma construção. “Requer estrutura, cultura e propósito. E nesses 28 meses na Secretaria Estadual da Saúde, nós temos propósito, e estamos construindo cultura e estrutura.” Nesse esforço de construção, o Governo de São Paulo tem implementado iniciativas como o PDI Saúde Digital. 

O Dr. Arnaldo Hossepian Júnior ressaltou ainda a responsabilidade frente às contas da Fundação Faculdade de Medicina. “Enquanto organização social, caminhamos pelo melhor caminho e não temos compromisso com erro, estamos sempre dispostos a melhorar e implementar”, destacou. 

Já o Prof. Dr. Giovanni Guido Cerri ressaltou a inovação em progresso no HCFMUSP. “O nosso projeto de saúde digital começa em 2020, cinco anos atrás. É uma ação ambiciosa do InovaHC. Hoje, com satisfação, vemos a parceria com o Governo do Estado de São Paulo.”

O que o apaixona no PDI Saúde Digital, segundo Renato Vieira, é a “imensa ousadia de três instituições muito bem conceituadas e de grande relevância” – a Secretaria de Saúde, o Hospital das Clínicas e a Faculdade de Medicina da USP –, unindo forças em uma iniciativa inovadora e pioneira em saúde digital no Brasil. 

O objetivo principal do projeto, segundo ele, é “criar provas de conceito, para testar os fluxos, corrigir rotas e oferecer para o estado, para sociedade, uma política factível de atingir a população”. E completou: “A saúde digital não é uma opção, não é um luxo, é uma necessidade de primeira mão para você conseguir construir acesso quando você tem 85% da cidade sem escala para conseguir atendimento de especialista”.

Como avaliar o impacto de um programa de saúde digital? 

Ao iniciar um projeto de saúde digital, a pergunta que ecoa é: vale a pena investir? 

Essa era uma das principais dúvidas no início do PDI Saúde Digital, além da necessidade de garantir indicadores assertivos para responder a essa questão – como explicou a diretora do PDI, Paula Gobi Scudeller. 

“Temos demandas muito grandes, recursos finitos; como avaliamos objetivamente? Pensando no PDI, voltamos para esse grupo da Cátedra e criamos o grupo técnico que tem conhecimentos diversos para compor uma avaliação de impacto multidimensional”, contou. 

A ideia é identificar o desfecho e a partir daí buscar o nexo causal. “Para nós, a avaliação de impacto é sobre causa e efeito. Entender o que dá errado nos mostra como evitar falhas futuras e alcançar o resultado desejado, que precisa estar claro desde o início”, completou Paula. 

Para chegar a uma resposta, é preciso equilibrar esses resultados a indicadores. “Primeiro, você identifica o resultado que deseja avaliar, se vale a pena ou não – por exemplo, na atenção primária, a resolutividade.” Já na atenção prisional, além da resolutividade, outro indicador analisado foi o de economia de deslocamento. A redução do absenteísmo é o foco no Ame+ Digital. “É sabido que, na atenção secundária, na especialidade, uma das maiores dores é a perda de atendimento quando o paciente falta”, identificou. 

Fruto deste trabalho, a ideia é construir uma sistematização capaz de ser aplicada em outros projetos, e tornar a saúde digital uma ferramenta escalável, com métodos claros. 

Metodologias: um novo olhar para a saúde digital

Auxiliando nessa empreitada da saúde digital no Estado, está a empresa Techni Methods – instituto de métodos para gestão, pesquisa e ensino. A empresa é uma das parceiras na construção de uma metodologia capaz de avaliar o PDI Saúde Digital. “Se avaliarmos esse impacto usando métodos tradicionais, pode ser que a causa desse impacto não seja percebida. Trabalhamos com essa nova classe de métodos e isso está na vanguarda da área de metodologia de pesquisa no mundo”, explicou o Prof. Jonathan Freitas.

Completando, o Me. Lucas Falcão apresentou a necessidade de métodos mistos para avaliação de impacto. “Na avaliação de impacto, discutimos o process tracing, um método para identificar a relação causal entre as etapas e explicar o desfecho. Para isso, utilizamos tanto entrevistas quanto documentos históricos”, destacou. Ele argumentou que a metodologia é útil para o diagnóstico e a escalabilidade, já que a elaboração do projeto envolve a perspectiva de gestores e colaboradores estratégicos do sistema. 

Além disso, as entrevistas são realizadas para examinar casos bem-sucedidos e insucessos. Os estudos qualitativos servem ainda como base para compreender se as hipóteses levantadas de melhora se comprovam na prática. 

Vanderson Sampaio apresentou a visão da vigilância em saúde para dentro do PDI, utilizando métodos inovadores. A ideia não é estabelecer novos formulários, mas atuar com uma aplicação estratégica: “Nossa proposta é manter o processo de preenchimento de formulários pelos profissionais de saúde inalterado. A partir dos dados coletados, aplicamos técnicas computacionais para classificar cada descrição e casuística em conjuntos de síndromes”, explicou.

Ainda, Dr. Roberto Iunes mostrou a necessidade de equilibrar impacto e custo, além de efetividade e eficiência. “Precisamos ter muito claramente qual é o resultado que eu quero obter”, argumentou. Para ele, cabe aos tomadores de decisão avaliarem: “Diante de recursos limitados, as questões centrais são: o que é viável realizar e quais devem ser as prioridades? Ferramentas de avaliação, especialmente as focadas em processo e resultado, naturalmente orientam e apoiam o tomador de decisão”. 

Reforçando a questão das avaliações, o Prof. Carlos Carvalho defendeu os métodos mistos: “Essas avaliações mistas quantitativas e qualitativas serão fundamentais para podermos mostrar o que PDI é capaz de contribuir com essa transformação digital”.

Finalizando o evento, o Prof. Paulo Saldiva avaliou a importância de integrar o PDI à Cátedra, questionando: “Como transformar uma iniciativa em uma política permanente e sustentável, a exemplo do Programa Nacional de Transplantes?”. Para ele, o avanço é fundamental para aproximar a universidade de políticas concretas. “A FAPESP tem bons indicadores de desempenho acadêmico, mas não de políticas públicas”, ponderou.